23 dezembro 2013

NATAL

A Sabedoria da Vida situou o Natal de Jesus frente do Ano Novo, na memória da Humanidade, como que renovando as oportunidades do amor fraterno, diante dos nossos compromissos com o Tempo.

Projetam-se anualmente, sobre a Terra os mesmos raios excelsos da Estrela de Belém, clareando a estrada dos corações na esteira dos dias incessantes, convocando-nos a alma, em silêncio, à ascensão de todos os recursos para o bem supremo.

A recordação do Mestre desperta novas vibrações no sentimento da Cristandade.

Não mais o estábulo simples, nosso pr6prio espírito, em cujo íntimo o Senhor deseja fazer mais luz...

Santas alegrias nos procuram a alma, em todos os campos do idealismo evangélico 

Natural o tom festivo das nossas manifestações de confiança renovada, entretanto, não podemos olvidar o trabalho renovador a que o Natal nos convida, cada ano, não obstante o pessimismo cristalizado de muitos companheiros, que desistiram temporariamente da comunhão fraternal.

E o ensejo de novas relações, acordando raciocínios enregelados com as notas harmoniosas do amor que o Mestre nos legou.

E a oportunidade de curar as nossas próprias fraquezas retificando atitudes menos felizes, ou de esquecer as faltas alheias para conosco, restabelecendo os elos da harmonia quebrada entre nós e os demais, em obediência à lição da desculpa espontânea, quantas vezes se fizerem necessárias.

È o passo definitivo para a descoberta de novas sementeiras de serviço edificante, atrav6s da visita aos irmãos mais sofredores do que n6s mesmos e da aproximação com aqueles que se mostram inclinados à cooperação no progresso, a fim de praticarmos, mais intensivamente, o princípio do “amemo-nos uns aos outros”.

Conforme a nossa atitude espiritual ante o Natal, assim aparece o Ano Novo à nossa vida.

O aniversário de Jesus precede o natalício do Tempo.

Com o Mestre, recebemos o Dia do Amor e da Concórdia.

Com o tempo, encontramos o Dia da Fraternidade Universal.

O primeiro renova a alegria.

O segundo reforma a responsabilidade.

Comecemos oferecendo a Ele cinco minutos de pensamento e atividade e, a breve espaço, nosso espírito se achará convertido em altar vivo de sua infinita boa vontade para com as criaturas, nas bases da Sabedoria e do Amor.

Não nos esqueçamos.

Se Jesus não nascer e crescer, na manjedoura de nossa alma, em vão os Anos Novos se abrirão iluminados para nós.

Emmanuel

15 dezembro 2013

DEPRESSÃO

É preciso saber lidar com nossas emoções; não devemos nos censurar por senti-las, mas sim julgar a decisão do que faremos com elas.

Reparação é o ato de compensar ou ressarcir prejuízos que causamos, não apenas aos outros mas também a nós mesmos, através de posturas inadequadas e injustas.
Necessitamos reparar as atitudes desonestas que tivemos perante nós mesmos, para ressarcir-nos dos abalos que promovemos contra nossas próprias convicções e para compensar-nos da deslealdade com nosso modo de ser e com nossos valores íntimos.
Devemo-nos conscientizar do quanto estivemos abrindo mão de nossos sentimentos, pensamentos, emoções e necessidades em favor de alguém, somente para receber aprovação e consideração.
Quantas vezes asfixiamos e negamos nossas emoções diante de acontecimentos que nos machucaram profundamente. Relegar essa parte de nós e ignorá-la pode se tomar um tanto desagradável e destrutivo em nossas vidas.
Viver o direito de sentirmos nossas emoções equivale a ser honestos com nós mesmos. Elas nos ajudam no processo de autodescobrimento e estão vinculadas a estruturas importantes de nossa vida mental, como os pensamentos cognitivos e as nossas intuições.
O hábito de rejeitarmos, freqüentemente, as energias emocionais fará com que percamos a capacidade de sentir corretamente; e, sem a interpretação dos sentimentos, não poderemos promover a reparação de nossas faltas.
Para repará-las, é preciso estarmos predispostos a dizer o que pensamos e a escolher com independência.
Para repará-las, é necessário termos a liberdade de sentir o que sentimos e de viver segundo nossas próprias emoções.
Para resgatar nossas faltas conosco e com os outros, é imperioso, antes de tudo, desbloquear nossa consciência para que possamos ter um real entendimento do que e como estamos fazendo as coisas em nossa vida.
Há em nós um mecanismo psicológico regulado pelo nosso grau evolutivo, que assimila os fatos ou os ensinamentos de acordo com nossas conquistas nas áreas da percepção e do entendimento. Nossa incapacidade para absorver certos aspectos da vida deve-se a causas situadas nas profundezas da nossa consciência, que está em constante aprendizado e ascensão espiritual. Portanto, não devemos nos culpar por fatos negativos do passado, pois tudo o que fizemos estava ao nível de nossa compreensão à época em que eles ocorreram.
“(...) poderemos ir resgatando as nossas faltas (...) reparando-as. Mas, não creiais que as resgateis mediante algumas privações pueris, ou distribuindo em esmolas o que possuirdes (...) Deus não dá valor a um arrependimento estéril, sempre fácil e que apenas custa o esforço de bater no peito” ()57, mas sim reavaliando antigas emoções e resgatando sentimentos passados, a fim de transformá-los para melhor. Desse modo, reconquistamos a perdida postura interior de “vida própria” e promovemos a modificação de nossas atitudes equivocadas perante as pessoas.
Emoções não são erradas ou pecaminosas, elas não são os atos em si, pois sentir raiva é muito diferente de cometer uma brutalidade.
Para repararmos, é preciso saber lidar com nossas emoções; não devemos nos censurar por senti-las, mas sim julgar a decisão do que faremos com elas. Advertimos, porém, que não estamos sugerindo que as emoções devam controlar nossos comportamentos. Ao contrário, acreditamos que, se não permitirmos senti-las, não saberemos como tê-las sob nosso controle.
Admitindo-as e submetendo-as ao nosso código de valores éticos, ao nosso intelecto e à nossa razão, saberemos comandá-las convenientemente, pois o resultado da repressão de nossas reações emocionais será uma progressiva tendência a estados depressivos.
Funciona deste modo uma das possíveis trajetórias da depressão: diante de um sentimento de dor, fatalmente experimentamos emoções, ou seja, reações energéticas provenientes dos instintos naturais. São denominadas “emoções básicas”, conhecidas comumente como medo e raiva. Essas reações energéticas nascem como impulso de defesa para nos proteger da ameaça de dor que uma agressão pode nos causar. Se a emoção for de raiva, o organismo enfrenta a fonte da dor; quando é de medo, contorna e foge do perigo. Ambas aceleram o sistema nervoso simpático e, conseqüentemente, a glândula supra-renal para que produza energia suficiente para a luta ou para a fuga. Se essas emoções (raiva ou medo) forem julgadas moralmente como negativas, elas poderão ser transformadas em sentimento de culpa, levando-nos a uma autocondenação. Quando reprimidas, quer dizer, quando não expressadas convenientemente nem aceitas, nós as negamos distorcendo os fatos, para não tomarmos consciência. Tanto a repressão sistemática quanto os compulsivos julgamentos negativos dessas emoções naturais geram a depressão.
Não são simplesmente as “privações pueris”, as “distribuições de esmolas” e o ato de “bater no peito” que transformarão o íntimo de nossas almas. Para verdadeiramente repararmos nossas faltas, é preciso, acima de tudo, que façamos uma viagem interior, mediante uma “crescente consciência”, para identificar os atos e acontecimentos incorretos que praticamos/vivenciamos e associá-los com os sentimentos e as emoções que os influenciaram. A partir daí, equilibrá-los.
Reparar nossas faltas com nós mesmos e com os outros é a fórmula feliz de evitar o sofrimento.
Livro As Dores da Alma
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Questão 1000 – Já desde esta vida poderemos ir resgatando as nossas faltas?
“Sim, reparando-as. Mas, não creiais que as resgateis mediante algumas privações pueris, ou distribuindo em esmolas o que possuirdes, depois que morrerdes, quando de nada mais precisais. Deus não dá valor a um arrependimento estéril, sempre fácil e que apenas custa o esforço de bater no peito. A perda de um dedo mínimo, quando se esteja prestando um serviço, apaga mais faltas do que o suplício da carne suportado durante anos, com objetivo exclusivamente pessoal. “Só por meio do bem se repara o mal e a reparação nenhum mérito apresenta, se não atinge o homem nem no seu orgulho, nem nos seus interesses materiais.
“De que serve, para sua justificação, que restitua, depois de morrer; os bens mal adquiridos, quando se lhe tornaram inúteis e deles tirou todo o proveito? “De que lhe serve privar-se de alguns gozos fúteis, de algumas superfluidades, se permanece integral o dano que causou a outrem?
“De que lhe serve, finalmente, humilhar-se diante de Deus, se, perante os homens, conserva o seu orgulho?”

19 novembro 2013

NÓS MESMOS QUE NOS ILUDIMOS

Somos nós mesmos que nos iludimos, por querer que as criaturas dêem o que não podem e que ajam como imaginamos que devam agir.
A criatura humana modela suas reações emocionais através dos critérios dos outros, estabelecendo para si própria metas ilusórias na vida. Esquece-se, entretanto, de que suas experiências são únicas, como também únicas são suas reações, e de que o constante estado de desencontro e aflição é subproduto das tentativas de concretizar essas suas irrealidades.
Constantemente, criamos fantasias em nossa mente, bloqueamos nossa consciência e recusamos aceitar a verdade. Usamos os mais diversos mecanismos de defesa, seja de forma consciente, seja de forma inconsciente, para evitar ou reduzir os eventos, as coisas ou os fatos de nossa vida que nos são inadmissíveis. A “negação” é um desses mecanismos psicológicos; ela aparece como primeira reação diante de uma perda ou de uma derrota. Portanto, negamos, invariavelmente, a fim de amortecer nossa alma das sobrecargas emocionais.
Quanto mais sonhos ilógicos, mais cresce a luta para materializá-los, levando certamente os indivíduos a se tornarem prisioneiros de um círculo vicioso e, como resultado, a sofrerem constantes frustrações e uma decepção crônica.
Um exemplo clássico de ilusão é a tendência exagerada de certas pessoas em querer fazer tudo com perfeição, aliás, querer ser o “modelo perfeito”. Essa abstração ilusória as coloca em situação desesperadora. Trata-se de um processo neurótico que faz com que elas assimilem cada manifestação de contrariedade dos outros como um sinal do seu fracasso e a interpretem como uma rejeição pessoal.
O ser humano supercrítico tem uma necessidade compulsória de ser considerado irrepreensível. Sua incapacidade de aceitar os outros como são é reflexo de sua incapacidade de aceitar a si próprio. Sua busca doentia da perfeição é uma projeção de suas próprias exigências internas. O perfeccionismo é, por certo, a mais comum das ilusões e, inquestionavelmente, uma das mais catastróficas, quando interfere nos relacionamentos humanos. Uma pessoa perfeita exigirá apenas companheiros perfeitos.
A sensação de que podemos controlar a vida de parentes e amigos também é uma das mais freqüentes ilusões e, nem sempre, é fácil diferenciar a ilusão de controlar e a realidade de amar e compreender.
A ação de controlar os outros se transforma, com o passar do tempo, em um nó que estrangula, lentamente, as mais queridas afeições. Se continuarmos a manter essa atitude manipuladora, veremos em breve se extinguir o amor dos que convivem conosco. Eles poderão permanecer ao nosso lado por fidelidade, jamais por carinho e prazer.
Em outras circunstâncias, agimos com segundas intenções, envolvendo criaturas que nos parecem trazer vantagens imediatas. Em nossos devaneios e quimeras, achamos que conseguiremos lograr êxito, mas, como sempre, todo plano oportunista, mais cedo ou mais tarde, será descoberto. Quando isso acontece, indignamo-nos, incoerentemente, contra a pessoa e não contra a nossa auto-ilusão.
Escolhemos amizades inadequadas, não analisamos suas limitações e possibilidades de doação, afeto e sinceridade e, quando recebemos a pedra da ingratidão e da traição por parte deles, culpamo-los. Certamente, esquecemo-nos de que somos nós mesmos que nos iludimos, por querer que as criaturas dêem o que não podem e que ajam como imaginamos que devam agir.
Gostamos de alguém imensamente e alimentamos a idéia de que esse mesmo alguém pudesse corresponder ao nosso amor e, assim, criamos sonhos românticos entre fantasias e irrealidades.
As histórias infantis sobre príncipes encantados socorrendo lindas donzelas em perigo são úteis e benéficas, desde que não se transformem em ilusórias bases da existência. Elas podem incitar os delírios de uma espera inatingível em que somente um “príncipe de verdade” tem o privilégio de merecer uma” princesa disfarçada”, ou vice-versa.
A consciência humana está quase sempre envolvida por ilusões, que impossibilitam, por um lado, a capacidade de autopercepção; por outro, dificultam o contato com a realidade das coisas e pessoas.
Não culpemos ninguém pelos nossos desacertos, pois somos os únicos responsáveis — cada um de nós — pela qualidade de vida que experimentamos aqui e agora.
“O sentimento de justiça está em a Natureza (...) o progresso moral desenvolve esse sentimento, mas não o dá. Deus opôs no coração do homem...” 
Procuremos auscultar nossas percepções interiores, usando nossos sentidos mais profundos e observando o que nos mostram as leis naturais estabelecidas em nossa consciência. Confiar no sentimento de justiça que sai do coração, conforme asseveram os Guias da Humanidade, é promover a independência de nossos pensamentos e viver com senso de realidade. Aliás, são essas as características mais importantes das pessoas espiritualmente maduras.
Estamos na Terra para estabelecer uma linha divisória entre a sanidade e a debilidade; portanto, é imprescindível discernir o que queremos forçar que seja realidade daquilo que verdadeiramente é realidade. Muitas vezes, podemos estar nos iludindo a ponto de negar fatos preciosos que nos ajudariam a perceber a grandiosidade da Vida Providencial trabalhando em favor de nosso desenvolvimento integral.
Livro As Dores da Alma

18 outubro 2013

A DEGENERAÇÃO DO ESPIRITISMO

Comparando a história do Espiritismo com a do Cristianismo Primitivo, podemos tirar algumas conclusões importantes para a o futuro da nossa doutrina e o do seu movimento social.

O Cristianismo, cuja pureza doutrinária do Evangelho e simplicidade de organização funcional dos primeiros núcleos cristãos foi conquistando lenta e seguramente a sociedade de sua época, sofreu com o tempo um desgaste ideológico. Corrompeu-se por força dos interesses políticos, financeiros e institucionais. Os novos adeptos e seus líderes, não conseguindo penetrar na essência do Evangelho, que é regeneração, ou seja, o mergulho doloroso no mundo interior e a reversão das atitudes exteriores, adaptaram o mesmo às suas conveniências psico-sociais, atacando suas idéias mais contundentes à moral animalizada, alimentando os mecanismos de defesa da mente, fazendo concessões às fraquezas dos adeptos e desviando-os para o comodismo dos disfarces rituais exteriores. Repressão de forças espirituais espontâneas e idéias consideradas ameaçadoras ao clero, como a mediunidade e a reencarnação; a falsificação de tradições e a adoção do sincretismo do costumes bárbaros, foram as principais estratégias dessa clericalização do cristianismo.

O resultado de tudo isso é bem conhecido: dois milênios de intolerâncias, violências, atraso espiritual, perpetuação das injustiças sociais, agravamento de compromissos com a lei de ação e reação e forte comprometimento da regeneração do nosso planeta.
Com o Espiritismo não está sendo muito diferente.

Apesar das advertências dos Espíritos e do próprio Allan Kardec quanto aos períodos históricos e tendências do movimento, os espíritas insistem em cometer os mesmos erros do passado. Os mesmos erros porque provavelmente somos as mesmas almas que rejeitaram e desviaram o Cristianismo da sua vocação e agora posamos de puristas ortodoxos, inimigos ocultos do Espírito da Verdade.

Negligentes com a oração e a vigilância, cedemos constantemente aos tentáculos do poder e da vaidade. Desprezamos a toda hora a idéia do “amai-vos e instruí-vos”, entendendo-a egoisticamente, ora como fortalecimento intelectual competitivo, ora como o afrouxamento dos valores doutrinários. Não conseguindo nos adaptar ao Espiritismo, compreendendo e vivenciando suas verdades, vamos aos poucos adaptando a doutrina aos nosso limites, corrompendo os textos da codificação, ignorando a experiência histórica de Allan Kardec e dos seus colaboradores, trazendo para os centros espíritas práticas dogmáticas das nossas preferências religiosas, hábitos políticos das agremiações que freqüentamos e mais comumente a interferência negativas dos nossos caprichos e vaidades pessoais.
Como os primeiros cristãos, também lutamos pelo crescimento de nossas instituições, deixando-nos seduzir pelo mundo exterior e imitando os grupos já pervertidos, construindo palácios arquitetônicos, cuja finalidade sempre foi causar impressão aos olhos e a falsa idéia de prestígio político; e dentro deles praticamos as mesmas façanhas da deslealdade, das rivalidades, das perseguições aos desafetos, da auto-afirmação e liderança autoritária, de crítica e boicote às idéias que não concordamos.

E, finalmente, cultivamos uma equívoca concepção de unificação, esperando ingenuamente que a nossas idéias e grupos sejam majoritários num Grande Órgão Dirigente do Espiritismo Mundial, do nosso imaginário, e muitas outras tolices e fantasias que nem vale a pena enumerar aqui.

E assim caminhamos, unidos em nossas displicências e divididos nas responsabilidades. Preferimos esquecer figuras exemplares que atuaram na Sociedade Espírita de Paris quando ignoramos nossa história sabiamente registrada na Revista Espírita. Deixamos de lado líderes agregadores – ainda que divergências normais e toleráveis existissem entre eles – para ouvir e nos deixar dominar por um disfarçado clero institucional, comando por vozes medíocres e ciumentas, figueiras estéreis, sofistas encantadores e improdutivos, enfim, velhas almas e velhas tendências, vinho azedo e frutas podres em nossos mais caros celeiros doutrinários.

Mas como evitar esse processo de corrupção e, em alguns casos notórios, de contaminação e má conduta? Como reverter a situação para reconduzir essas experiências para os rumos verdadeiramente espíritas? O que fazer com as más instituições, com os maus dirigentes, os maus médiuns, maus comunicadores, enfim os maus espíritas? Devemos identificá-los e expulsá-los dos nossos quadros? Devemos denunciá-los e discriminá-los como fazia a Inquisição com os acusados de heresia?

O que fazer com os livros que consideramos impuros ou inconvenientes ao movimento?: devemos queimá-los em praça pública, censurá-los em nossas bibliotecas ou então deixar que a própria comunidade espírita pratique o livre arbítrio e aprenda a fazer escolhas corretas e adequadas às suas necessidades?

O Espiritismo foi certamente uma doutrina elaborada por Espíritos Superiores e isto nos deixa tranqüilos quanto ao seu futuro doutrinário. Mas o seu movimento vem sendo feito por seres humanos, espíritos ainda imaturos e inexperientes. Isso realmente tem nos deixado muito preocupados, pois sabemos que, hoje, os inimigos do Espiritismo estão entre os próprios espíritas.
                                 Dalmo Duque dos Santos

                               Portal do Espírito

30 setembro 2013

SEXO E AMOR

“ Sexo e amor são duas forças quase antagônicas; o amor, em sua
essência, nada tem a ver com o sexo: a manifestação sexual nos
exterioriza um sentimento de posse, ao passo que o amor é doação; osexo se traduz por conquista, o amor é renúncia... Tanto quanto as
demais possibilidades do espírito, o sexo está sujeito a conseqüente
sublimação. Quando se fala em sexo, não conseguimos admitilo,
em seu exercício, a não ser como ele ainda é praticado pelos seres
humanos, ou seja, muito próximo da forma com que os próprios
animais o executam, em obediência ao instinto de reprodução... No
ser humano, acrescentasse o ingrediente do prazer; todavia que é o
prazer, senão uma sensação e não um sentimento? Sexo é sensação,
amor é sentimento... Os dois coexistem e coexistirão, até que, um dia, o amor se despoje completamente; na verdade, tudo que se refere a sexo passa; é um prazer que carece de ser renovado com freqüência, porquanto não basta a si mesmo... Só o amor é capaz de gerar para si a própria alegria! Somente o amor se basta!...”
Inácio Ferreira

29 setembro 2013

SEMPRE ATUAL O HOMEM ITEGRAL

Os holocaustos sucedem-se.
Os crimes hediondos em nome da liberdade se acumulam e os tribunais de justiça os apóiam.
O homem é reduzido à ínfima condição no “apartheid”, nas lutas de classes, na ingestão e uso de alcoólicos e drogas alucinógenas como abismo de fuga para a loucura e o suicidio.
Movimentos filosóficos absurdos arregimentam as mentes jovens e desiludidas em nome do Nadaísmo, do Existencialismo, do Hippieísmo e de comportamentos extravagantes mais recentes, mais agressivos, mais primários, mais violentos.
O homem moderno estertora, enquanto viaja em naves superconfortáveis fora da atmosfera e dentro dela, vencendo as distâncias, interpretando os desafios e enigmas cósmicos.
A sonda investigadora penetra o âmago da vida microscópica e abre todo um universo para informações e esclarecimentos salvadores.
Há esperança para terríveis enfermidades que destruíram gerações, enquanto surgem novas doenças totalmente perturbadoras.
A perplexidade domina as paisagens humanas.
A gritante miséria econômica e o agressivo abandono social fazem das cidades hodiernas o palco para o crime, no qual a criatura vale o que conduz, perdendo os bens materiais e a vida em circunstâncias inimagináveis.
Há uma psicosfera de temor asfixiante enquanto emerge do imo do homem a indiferença pela ordem, pelos valores éticos, pela existência corporal.
Desumaniza-se o indivíduo, entregando-se ao pavor, ou gerando-o, ou indiferente a ele.
Os distúrbios de comportamento aumentam e o despautério desgoverna.
Uma imediata, urgente reação emocional, cultural, religiosa, psicológica, surge, e o homem voltará a identificar-se consigo mesmo.
A sua identidade cósmica é o primeiro passo a dar, abrindo-se ao amor, que gera confiança, que arranca da negação e o irisa de luz, de beleza, de esperança.
A grande noite que constringe é, também, o início da alvorada que surge.
Neste homem atribulado dos nossos dias, a Divindade deposita a confiança em favor de uma renovação para um mundo melhor e uma sociedade mais feliz.
Buscar os valores que lhe dormem soterrados no íntimo é a razão de sua existência corporal, no momento.

Encontrar-se com a vida, enfrentá-la e triunfar, eis o seu fanal.
Joanna de Angelis

07 setembro 2013

VISÃO ESPÍRITA DOS TRANSTORNOS MENTAIS

Como a visão espírita dos transtornos mentais tem exercido uma grande influência no Brasil, buscamos revisar os textos dos principais autores espíritas sobre o tema: Allan Kardec, Bezerra de Menezes, Inácio Ferreira e Joanna de Angelis. O Espiritismo desenvolveu uma abrangente teoria sobre as relações mente-corpo e os transtornos mentais. Defende um dualismo interacionista, a sobrevivência após a morte e a possibilidade de intercâmbio entre encarnados e desencarnados. Sem negar as causas biológicas, sociais e psicológicas dos transtornos mentais, os espíritas acrescentam a etiologia espiritual. Esta poderia se dever à influência negativa de espíritos desencarnados (o que denominam obsessão) ou de vivências traumáticas de existências passadas. Para a terapêutica, além das intervenções médicas e psicológicas convencionais, são recomendadas as reuniões de desobsessão, passes, oração e a busca da vivência de uma conduta ética. Devido à importância alcançada por estes princípios no Brasil e à quase total ausência de estudos nos meio acadêmico sobre o tema, diversas linhas de pesquisa são sugeridas pelos autores.
O estudo acadêmico deste tema tem um grande importância devido à relevância que assumiu em nossa cultura e pelas implicações práticas. Dois campos se abrem para esta investigação: a pesquisa sobre a realidade objetiva e eficácia das práticas espíritas e o impacto cultural que tais visões de mundo têm na população. Este artigo é apenas um levantamento inicial do assunto, ao longo deste trabalho delinearam-se diversas linhas possíveis de investigação, algumas delas já em andamento. Espera-se ter colaborado para chamar a atenção da comunidade científica para a relevância deste tema.

 Alexander Moreira de Almeida/ Francisco Lotufo Neto

 Costumamos chamar  atenção aos espiritas lembrando que tudo evolui e que desde os primórdios da humanidade, até Kardec, e dele até hoje, muita água passou por baixo da ponte; e que muitos estudos sérios e científicos têm demostrado fatos e renovações no mundo espiritual. Claro, tudo é evolução e logicamente os espíritos assim como os encarnados também evolui e junto com eles o espiritismo.
No campo das obsessões temos hoje métodos mais evoluídos e sofisticados. Isso nos mostra que já não temos espíritos atrasados nas perturbações e obsessões, estão bem mais adiantados e inteligentes, o ser evoluiu sensivelmente em 150 anos e os conhecimentos espíritas devem também evoluir.

Conversando com os espíritos

02 agosto 2013

DORES DO CORPO, DORES DA ALMA

 Como vos foi dito muitas vezes, em diferentes instruções, a mediunidade curadora, com a ajuda da faculdade vidente, está chamada a desempenhar um grande papel no período atual da revelação. São os dois agentes que cooperam com maior força para a regeneração da Humanidade, e à fusão de todas as crenças em uma única crença, tolerante, progressiva, universal.
          Quando, recentemente, comuniquei-me em uma reunião da Sociedade, onde se me havia evocado, eu o disse e repito, todo o mundo possui, mais ou menos, a faculdade curadora, e se cada um quisesse se consagrar seriamente ao estudo desta faculdade, aqueles médiuns que se ignoram poderiam prestar serviços úteis aos seus irmãos em humanidade. O tempo não me permitiu então desenvolver todo o meu pensamento a este respeito; aproveitaria do vosso pedido para fazê-lo hoje.

          Em geral, aqueles que procuram a faculdade curadora têm por único desejo o restabelecimento da saúde material, de dar a liberdade de sua ação a tal órgão impedido em suas funções por uma causa material qualquer. Mas, sabei-o bem, aí está o menor dos serviços que esta faculdade está chamada a prestar, e não a conheceríeis senão em suas premissas e de maneira inteiramente rudimentar, se lhe assinalais este único papel... Não, a faculdade curadora tem uma missão mais nobre e mais extensa!... Se ela pode dar aos corpos o vigor da saúde, deve também dar às almas toda a pureza das quais sejam suscetíveis, e é somente neste caso que ela poderá ser chamada curativa no sentido absoluto da palavra.


          Foi-vos dito com frequência, e vossos instrutores não saberiam mais repeti-lo, o efeito aparentemente material, o sofrimento, tem quase constantemente uma causa mórbida e material, residindo no estado moral do Espírito. Se, pois, o médium curador ataca o corpo, ele não ataca senão o efeito, e a causa primeira do mal permanecendo, o efeito pode se reproduzir, seja sob sua forma primordial, seja sob qualquer aparência. Frequentemente, aí está uma das razões pelas qual tal doente, subitamente curado pela influência de um médium, reaparece com todos os seus acidentes, desde que a influência benfazeja se afaste, porque não fica nada, absolutamente nada para combater a causa mórbida.


          Para evitar esses retornos, é preciso que o remédio espiritual ataque o mal em sua base, como o fluido material o destrói em seus defeitos; é preciso, em uma palavra, tratar ao mesmo tempo o corpo e a alma. Para ser bom médium curador, é preciso que não só o corpo esteja apto a servir de canal aos fluidos materiais reparadores, mas é preciso ainda que o Espírito possua uma força moral que ele não pode adquirir senão pela sua própria melhoria.


          Para ser médium curador, é preciso, pois, para isto se preparar, não só pela prece, mas pela depuração de sua alma, a fim de tratar fisicamente o corpo por meios físicos, e de influenciar a alma pela força moral.


          Uma última reflexão. Aconselhasse-vos procurar de preferência os pobres que não têm outros recursos do que a caridade do hospital; eu não sou inteiramente desta opinião. Jesus dizia que o médico tem por missão cuidar dos doentes e não daqueles que estão saudáveis; lembrai-vos que em caso de saúde moral, ha doentes por toda a parte, e que o dever do médico é de ir por toda a parte onde seu socorro é necessário.

Autor: Allan Kardec  Dissertações Espíritas
Paris, 12 de março de 1867

15 julho 2013

COMO IREI MORRER? POSSO MORRER COMO GOSTARIA? SIM! NÓS PODEMOS!

          1. A certeza da vida futura não exclui as apreensões quanto à passagem desta para a outra vida. Há muita gente que teme não a morte, em si, mas o momento da transição. Sofremos ou não nessa passagem? Por isso se inquietam, e com razão, visto que ninguém foge à lei fatal dessa transição. Podemos dispensar-nos de uma viagem neste mundo, menos essa. Ricos e pobres, devem todos fazê-la, e, por dolorosa que seja a franquia, nem posição nem fortuna poderiam suavizá-la.
          2. Vendo-se a calma de alguns moribundos e as convulsões terríveis de outros, pode-se previamente julgar que as sensações experimentadas nem sempre são as mesmas. Quem poderá, no entanto esclarecer-nos a tal respeito? Quem nos descreverá o fenômeno fisiológico da separação entre a alma e o corpo? Quem nos contará as impressões desse instante supremo quando a Ciência e a Religião se calam? E calam--se porque lhes falta o conhecimento das leis que regem as relações do Espírito e da matéria, parando uma nos umbrais da vida espiritual e a outra nos da vida material. O Espiritismo é o traço de união entre as duas, e só ele pode dizer-nos como se opera a transição, quer pelas noções mais positivas da natureza da alma, quer pela descrição dos que deixaram este mundo. O conhecimento do laço fluídico que une a alma ao corpo é a chave desse e de muitos outros fenômenos.
          3. A insensibilidade da matéria inerte é um fato, e só a alma experimenta sensações de dor e de prazer. Durante a vida, toda a desagregação material repercute na alma, que por este motivo recebe uma impressão mais ou menos dolorosa. É a alma e não o corpo quem sofre, pois este não é mais que instrumento da dor: — aquela é o paciente. Após a morte, separada a alma, o corpo pode ser impunemente mutilado que nada sentirá; aquela, por insulada, nada experimenta da destruição orgânica. A alma tem sensações próprias cuja fonte não reside na matéria tangível. O perispírito é o envoltório da alma e não se separa dela nem antes nem depois da morte. Ele não forma com ela mais que uma só entidade, e nem mesmo se pode conceber uma sem outro. Durante a vida o fluido perispirítico penetra o corpo em todas as suas partes e serve de veículo às sensações físicas da alma, do mesmo modo como esta, por seu intermédio, atua sobre o corpo e dirige-lhe os movimentos.
           4. A extinção da vida orgânica acarreta a separação da alma em consequência do rompimento do laço fluídico que a une ao corpo, mas essa separação nunca é brusca.
            O fluido perispiritual só pouco a pouco se desprende de todos os órgãos, de sorte que a separação só é completa e absoluta quando não mais reste um átomo do perispírito ligado a uma molécula do corpo. “A sensação dolorosa da alma, por ocasião da morte, está na razão direta da soma dos pontos de contato existentes entre o corpo e o perispírito, e, por conseguinte, também da maior ou menor dificuldade que apresenta o rompimento.” Não é preciso, portanto dizer que, conforme as circunstâncias, a morte pode ser mais ou menos penosa. Estas circunstâncias são que nos cumpre examinar.
          5. Estabeleçamos em primeiro lugar, e como princípio, os quatro seguintes casos, que podemos reputar situações extremas dentro de cujos limites há uma infinidade de variantes:
          1º Se no momento em que se extingue a vida orgânica o desprendimento do perispírito fosse completo, a alma nada sentiria absolutamente.
          2º Se nesse momento a coesão dos dois elementos estiver no auge de sua força, produz-se uma espécie de ruptura que reage dolorosamente sobre a alma.
          3º Se a coesão for fraca, a separação torna-se fácil e opera-se sem abalo.
          4º Se após a cessação completa da vida orgânica existirem ainda numerosos pontos de contato entre o corpo e o perispírito, a alma poderá ressentir-se dos efeitos da decomposição do corpo, até que o laço inteiramente se desfaça.
           Daí resulta que o sofrimento, que acompanha a morte, está subordinado à força adesiva que une o corpo ao perispírito; que tudo o que puder atenuar essa força, e acelerar a rapidez do desprendimento, torna a passagem menos penosa; e, finalmente, que, se o desprendimento se operar sem dificuldade, a alma deixará de experimentar qualquer sentimento desagradável.
          6. Na transição da vida corporal para a espiritual, produz--se ainda outro fenômeno de importância capital — a perturbação. Nesse instante a alma experimenta um torpor que paralisa momentaneamente as suas faculdades, neutralizando, ao menos em parte, as sensações. É como se disséssemos um estado de catalepsia, de modo que a alma quase nunca testemunha conscientemente o derradeiro suspiro. Dizemos quase nunca, porque há casos em que a alma pode contemplar conscientemente o desprendimento, como em breve veremos. A perturbação pode, pois, ser considerada o estado normal no instante da morte e perdurar por tempo indeterminado, variando de algumas horas a alguns anos. À proporção que se liberta, a alma encontra-se numa situação comparável à de um homem que desperta de profundo sono; as ideias são confusas, vagas, incertas; a vista apenas distingue como que através de um nevoeiro, mas pouco a pouco se aclara, desperta-se-lhe a memória e o conhecimento de si mesma. Bem diverso é, contudo, esse despertar; calmo, para uns, acorda-lhes sensações deliciosas; tétrico, aterrador e ansioso, para outros, é qual horrendo pesadelo.
          7. O último alento quase nunca é doloroso, uma vez que ordinariamente ocorre em momento de inconsciência, mas a alma sofre antes dele a desagregação da matéria, nos estertores da agonia, e, depois, as angústias da perturbação. Demo-nos pressa em afirmar que esse estado não é geral, porquanto a intensidade e duração do sofrimento estão na razão direta da afinidade existente entre corpo e perispírito. Assim, quanto maior for essa afinidade, tanto mais penosos e prolongados serão os esforços da alma para desprender-se. Há pessoas nas quais a coesão é tão fraca que o desprendimento se opera por si mesmo, como que naturalmente; é como se um fruto maduro se desprendesse do seu caule, e é o caso das mortes calmas, de pacífico despertar.
          8. A causa principal da maior ou menor facilidade de desprendimento é o estado moral da alma. A afinidade entre o corpo e o perispírito é proporcional ao apego à matéria, que atinge o seu máximo no homem cujas preocupações dizem respeito exclusiva e unicamente à vida e gozos materiais. Ao contrário, nas almas puras, que antecipadamente se identificam com a vida espiritual, o apego é quase nulo. E desde que a lentidão e a dificuldade do desprendimento estão na razão do grau de pureza e desmaterialização da alma, de nós somente depende o tornar fácil ou penoso, agradável ou doloroso, esse desprendimento.
            Posto isto, quer como teoria, quer como resultado de observações, resta-nos examinar a influência do gênero de morte sobre as sensações da alma nos últimos transes.
          9. Em se tratando de morte natural resultante da extinção das forças vitais por velhice ou doença, o desprendimento opera-se gradualmente; para o homem cuja alma se desmaterializou e cujos pensamentos se destacam das coisas terrenas, o desprendimento quase se completa antes da morte real, isto é, ao passo que o corpo ainda tem vida orgânica, já o Espírito penetra a vida espiritual, apenas ligado por elo tão frágil que se rompe com a última pancada do coração. Nesta contingência o Espírito pode ter já recuperado a sua lucidez, de molde a tornar-se testemunha consciente da extinção da vida do corpo, considerando-se feliz por tê-lo deixado. Para esse a perturbação é quase nula, ou antes, não passa de ligeiro sono calmo, do qual desperta com indizível impressão de esperança e ventura.
            No homem materializado e sensual, que mais viveu do corpo que do Espírito, e para o qual a vida espiritual nada significa, nem sequer lhe toca o pensamento, tudo contribui para estreitar os laços materiais, e, quando a morte se aproxima, o desprendimento, conquanto se opere gradualmente também, demanda contínuos esforços. As convulsões da agonia são indícios da luta do Espírito, que às vezes procura romper os elos resistentes, e outras se agarra ao corpo do qual uma força irresistível o arrebata com violência, molécula por molécula.
          10. Quanto menos vê o Espírito além da vida corporal, tanto mais se lhe apega, e, assim, sente que ela lhe foge e quer retê-la; em vez de se abandonar ao movimento que o empolga, resiste com todas as forças e pode mesmo prolongar a luta por dias, semanas e meses inteiros.
            Certo, nesse momento o Espírito não possui toda a lucidez, visto como a perturbação de muito se antecipou à morte; mas nem por isso sofre menos, e o vácuo em que se acha, e a incerteza do que lhe sucederá, agravam-lhe as angústias. Dá-se por fim a morte, e nem por isso está tudo terminado; a perturbação continua, ele sente que vive, mas não define se material, se espiritualmente, luta, e luta ainda, até que as últimas ligações do perispírito se tenham de todo rompido. A morte pôs termo à moléstia efetiva, porém, não lhe sustou as consequências, e, enquanto existirem pontos de contato do perispírito com o corpo, o Espírito ressente-se e sofre com as suas impressões.
          11. Quão diversa é a situação do Espírito desmaterializado, mesmo nas enfermidades mais cruéis! Sendo frágeis os laços fluídicos que o prendem ao corpo, rompem-se suavemente; depois, a confiança do futuro entrevisto em pensamento ou na realidade, como sucede algumas vezes, fá-lo encarar a morte qual redenção e as suas consequências como prova, advindo-lhe daí uma calma resignada, que lhe ameniza o sofrimento.
            Após a morte, rotos os laços, nem uma só reação dolorosa que o afete; o despertar é lépido, desembaraçado; por sensações únicas: o alívio, a alegria!
          12. Na morte violenta as sensações não são precisamente as mesmas. Nenhuma desagregação inicial há começado previamente a separação do perispírito; a vida orgânica em plena exuberância de força é subitamente aniquilada. Nestas condições, o desprendimento só começa depois da morte e não pode completar-se rapidamente. O Espírito, colhido de improviso, fica como que aturdido e sente, e pensa, e acredita-se vivo, prolongando-se esta ilusão até que compreenda o seu estado. Este estado intermediário entre a vida corporal e a espiritual é dos mais interessantes para ser estudado, porque apresenta o espetáculo singular de um Espírito que julga material o seu corpo fluídico, experimentando ao mesmo tempo todas as sensações da vida orgânica. Há, além disso, dentro desse caso, uma série infinita de modalidades que variam segundo os conhecimentos e progressos morais do Espírito. Para aqueles cuja alma está purificada, a situação pouco dura, porque já possuem em si como que um desprendimento antecipado, cujo termo a morte mais súbita não faz senão apressar. Outros há, para os quais a situação se prolonga por anos inteiros. É uma situação essa muito frequente até nos casos de morte comum, que nada tendo de penosa para Espíritos adiantados, se torna horrível para os atrasados. No suicida, principalmente, excede a toda expectativa. Preso ao corpo por todas as suas fibras, o perispírito faz repercutir na alma todas as sensações daquele, com sofrimentos cruciantes.
          13. O estado do Espírito por ocasião da morte pode ser assim resumido: Tanto maior é o sofrimento, quanto mais lento for o desprendimento do perispírito; a presteza deste desprendimento está na razão direta do adiantamento moral do Espírito; para o Espírito desmaterializado, de consciência pura, a morte é qual um sono breve, isento de agonia, e cujo despertar é suavíssimo.
          14. Para que cada qual trabalhe na sua purificação, reprima as más tendências e domine as paixões, preciso se faz que abdique das vantagens imediatas em prol do futuro, visto como, para identificar-se com a vida espiritual, encaminhando para ela todas as aspirações e preferindo-a à vida terrena, não basta crer, mas compreender. Devemos considerar essa vida debaixo de um ponto de vista que satisfaça ao mesmo tempo à razão, à lógica, ao bom-senso e ao conceito em que temos a grandeza, a bondade e a justiça de Deus. Considerado deste ponto de vista, o Espiritismo, pela fé inabalável que proporciona, é, de quantas doutrinas filosóficas que conhecemos, a que exerce mais poderosa influência.
            O espírita sério não se limita a crer, porque compreende, e compreende, porque raciocina; a vida futura é uma realidade que se desenrola incessantemente a seus olhos; uma realidade que ele toca e vê, por assim dizer, a cada passo e de modo que a dúvida não pode empolgá-lo, ou ter guarida em sua alma. A vida corporal, tão limitada, amesquinha-se diante da vida espiritual, da verdadeira vida. Que lhe importam os incidentes da jornada se ele compreende a causa e utilidade das vicissitudes humanas, quando suportadas com resignação? A alma eleva-se-lhe nas relações com o mundo visível; os laços fluídicos que o ligam à matéria enfraquecem-se,  operando-se por antecipação um desprendimento parcial que facilita a passagem para a outra vida. A perturbação consequente à transição pouco perdura, porque, uma vez franqueado o passo, para logo se reconhece, nada estranhando, antes compreendendo, a sua nova situação.
          15. Com certeza não é só o Espiritismo que nos assegura tão auspicioso resultado, nem ele tem a pretensão de ser o meio exclusivo, a garantia única de salvação para as almas. Força é confessar, porém, que pelos conhecimentos que fornece, pelos sentimentos que inspira, como pelas disposições em que coloca o Espírito, fazendo-lhe compreender a necessidade de melhorar-se, facilita enormemente a salvação. Ele dá a mais, e a cada um, os meios de auxiliar o desprendimento doutros Espíritos ao deixarem o invólucro material, abreviando-lhes a perturbação pela evocação e pela prece. Pela prece sincera, que é uma magnetização espiritual, provoca-se a desagregação mais rápida do fluido perispiritual; pela evocação conduzida com sabedoria e prudência, com palavras de benevolência e conforto, combate-se o entorpecimento do Espírito, ajudando-o a reconhecer-se mais cedo, e, se é sofredor, incute-se-lhe o arrependimento — único meio de abreviar seus sofrimentos. 1

 1 Os exemplos que vamos transcrever mostram-nos os Espíritos nas diferentes fases de felicidade e infelicidade da vida espiritual. Não fomos procurá-los nas personagens mais ou menos ilustres da antiguidade, cuja situação pudera ter mudado consideravelmente depois da existência que lhes conhecemos, e que por isto não oferecessem provas suficientes de autenticidade. Ao contrário, tomamos esses exemplos nas circunstâncias mais ordinárias da vida contemporânea, uma vez que assim pode cada qual encontrar mais similitudes e tirar, pela comparação, as mais proveitosas instruções. Quanto mais próxima de nós está a existência terrestre dos

Espíritos — quer pela posição social, quer por laços de parentesco ou de meras relações — tanto mais nos interessamos por eles, tornando-se fácil averiguar-lhes a identidade. As posições vulgares são as mais comuns, as de maior número, podendo cada qual aplicá-las em si, de modo a tornarem-se úteis, ao passo que as posições excepcionais comovem menos, porque saem da esfera dos nossos hábitos. Não foram, pois, as sumidades que procuramos, e se nesses exemplos se encontram quaisquer personagens conhecidas, de obscuras se compõe o maior número. Acresce que nomes retumbantes nada adiantariam à instrução que visamos, podendo ainda ferir suscetibilidades. E nós não nos dirigimos nem aos curiosos, nem aos amadores de escândalos, mas tão-somente aos que pretendem instruir-se. Esses exemplos poderiam ser multiplicados infinitamente, porém, forçados a limitar-lhes o número, fizemos escolha dos que pudessem melhor esclarecer o mundo espiritual e o seu estado, já pela situação dos Espíritos, já pelas explicações que estavam no caso de fornecer. A maior parte destes exemplos está inédita, e apenas alguns, poucos, foram já publicados na Revue Spirite. Destes, suprimimos supérfluas minúcias, conservando apenas o essencial ao fim que nos propusemos, ajustando-lhes as instruções complementares a que poderão dar lugar ulteriormente.
Fonte: O Céu e o Inferno