18 maio 2013

TENHA PACIÊNCIA, MEU FILHO!


Quando Dona Maria João de Deus desencarnou, em 29 de setembro de 1915, Chico
Xavier, um de seus nove filhos, foi entregue aos cuidados de Dona Rita de Cássia, velha amiga e
madrinha da criança.
Dona Rita, porém, era obsidiada e, por qualquer bagatela, se destemperava, irritadiça.
Assim é que o Chico passou a suportar, por dia, várias surras de varas de marmeleiro,
recebendo, ainda, a penetração de pontas de garfos no ventre, porque a neurastênica e perversa
senhora inventara esse estranho processo de torturar.
O garoto chorava muito, permanecendo horas e horas, com os garfos dependurados na
carne sanguinolenta e corria para o quintal, a fim de desabafar e, porque a madrinha repetia,
nervosa:
— Este menino tem o diabo no corpo.
Um dia, lembrou-se
a criança de que a Mãezinha orava sempre, todos os dias, ensinando-o
a elevar o pensamento a Jesus e sentiu falta da prece que não encontrava em seu novo lar.
Ajoelhou-se
sob velhas bananeiras e pronunciou as palavras do Pai Nosso que aprendera
dos lábios maternais. Quando terminou, oh! Maravilha! Sua progenitora, Dona Maria João de
Deus, estava perfeitamente viva ao seu lado. Chico, que ainda não lidara com as negações e
dúvidas dos homens, nem por um instante pensou que a Mãezinha tivesse partido para as sombras
da morte. Abraçou-a,
feliz, e gritou:
— Mamãe, não me deixe aqui... Carregueme
com a senhora...
— Não posso, — disse a entidade, triste.
— Estou apanhando muito, mamãe!
Dona Maria acariciou-o
e explicou:
— Tenha paciência, meu filho. Você precisa crescer mais forte para o trabalho. E quem
não sofre não aprende a lutar.
— Mas, — tornou a criança — minha madrinha diz que eu estou com o diabo no corpo.
— Que tem isso? Não se incomode. Tudo passa e se você não mais reclamar, se você
tiver paciência, Jesus ajudará para que estejamos sempre juntos.
Em seguida, desapareceu.
O pequeno, aflito, chamou-a
em vão.
24 – Ramiro Gama
Desde esse dia, no entanto, passou a receber o contato de varas e garfos sem revolta e sem
lágrimas.
— Chico é tão cínico — dizia Dona Rita, exasperada, — que não chora, nem mesmo a
pescoção.
Porque a criança explicava ter a alegria de ver sua mãe, sempre que recebia as surras, sem
chorar, o pessoal doméstico passou a dizer que ele era um “menino aluado”.
E, diariamente, à tarde, com os vergões na pele e com o sangue a corre-lhe
em
pequeninos filetes do ventre o pequeno seguia, de olhos enxutos e brilhantes, para o quintal, a fim
de reencontrar a mãezinha querida, sob as velhas árvores, vendo-a
e ouvindo-a,
depois da oração.
Assim começou a luta espiritual do médium extraordinário que conhecemos.
Fonte: LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER