30 julho 2012

MEDO


Por que temos medo? Como ele se instala e influencia nossas vidas? Como combatê-lo?
O medo é um sentimento de grande inquietação quando estamos diante de um perigo real, um perigo imaginário ou uma ameaça. É portanto um sintoma proveniente da insegurança em face de certas situações da vida.
É natural que alguém que não saiba nadar tenha medo de se afogar; é o medo natural decorrente do instinto de sobrevivência. Outros medos são o medo de perder o emprego, de perder um ente querido, de fracassar, e a insegurança do terrorismo internacional, das catástrofes da natureza (tsunamis, tornados, avalanches de neve, etc.), das doenças e epidemias que varam o mundo (gripe asiática, ébole), dos acidentes de avião, de carro, etc.
Fatores sociológicos e econômicos
Nossa sociedade promete muito ao indivíduo, mas na realidade não lhe oferece nada mais que ilusões. A sociedade tecnológica compele o indivíduo a querer ter cada vez mais, a adquirir bens materiais, esquecendo-se dos bens verdadeiros - os bens morais e éticos.
A sociedade competitiva e eticamente egoísta onde vivemos e as conseqüências desastrosas desta maneira de viver geram insegurança emocional que induz no indivíduo o medo. Este medo manifesta-se de diversas formas devido a pressões psicológicas, fatores sociológicos e impositivos econômicos da sociedade atual.
Por exemplo, um comercial de televisão promete o sucesso imediato e o amor àqueles que adquirem o carro do ano, ou que fumam o cigarro da marca X, ou bebem a cerveja da marca Y, no bar famoso e entre gente bonita, que sorriem e alegram o ambiente e o visual. O espectador, homens, mulheres e crianças do mundo, e não do sonho televisivo, está em sua casa, nem tão bela, nem tão confortável, numa situação diferente do ideal televisivo. O espectador, então, compara e deseja. E sai em busca do sonho...
O mundo oferece e pede que se entre na competição para adquirir o carro do ano e o sucesso, a mulher ou o homem jovem e atraente, a casa agradável, a família perfeita!
O indivíduo reage a esta expectativa de obter, de adquirir, de forma contraditória. Por um lado, quer competir, por outro lado tem medo de fracassar. Assim, "vivem as festas furiosas, as extravagâncias de conduta, os desperdícios de moeda e o exibicionismo", esperando vencer o medo íntimo e seus desafios internos e externos. Outros descambam para a delinqüência e para as drogas. Procuram rapidamente obter o que a sociedade oferece, gerando uma onda de violência urbana e de vícios.
Deste modo, uns vivem a loucura da delinqüência, dos vícios, das drogas, do materialismo exagerado e suas variadas manifestações, enquanto outros vivem isolados, buscando proteger-se e proteger sua família, emparedando-se no lar ou em clubes fechados, onde se sentem protegidos e seguros.
Exagero? Certamente não. Basta observar.
Nesta sociedade alucinada pelo ter e não pelo ser, o medo instala-se nos "temperamentos frágeis, nas constituições emocionais de pouca resistência, de começo no indivíduo, depois na sociedade"1. Por isso, segundo a mentora espiritual Joanna de Ângelis, "esta é uma sociedade amedrontada". "O excesso de tecnologia gerou ausência de solidariedade humana, que provoca uma avalanche de receios."
É no Espírito que estão as causas do medo.
Embutidos nos fatores sociológicos e econômicos, vamos descobrir os fatores psicológicos oriundos do ser espiritual, pois é no cerne do ser – o Espírito – que se encontram as causas do medo.
O medo procede de experiências passadas, de reencarnações malsucedidas ou fracassadas. Assim, o medo pode advir da culpa não liberada, em face de o crime haver permanecido oculto ou não justiçado, mas permanecendo na consciência do ser para posterior reparação. O medo pode ser ainda decorrente de grande impacto negativo no âmago do ser, como planos maquiavélicos, traições infames com disfarçado sorriso, que geram a atual consciência de culpa e os problemas de relacionamento.
O medo de enfrentar os seus problemas e resolvê-los impele as pessoas a conectarem-se com outras mentes desencarnadas que lhes inspiram e sugerem a fuga através das drogas, da bebida, do cigarro, do comportamento exagerado.
O medo de não fazer parte da sociedade dos "ganhadores" impele a chamar a atenção, através do comportamento e roupas exóticas e espalhafatosas.
O medo e a frustração de não ter levam ao crime.
O medo de não ser amado leva a buscar amor. Como não conhece o amor verdadeiro, busca-o na troca constante de parceiros, e até na prostituição.
O medo gera desorganização emocional e psíquica, gerando doenças por somatização destes fatores.
E então, como combater o medo? Como evitá-lo?
Novamente, vem-nos esclarecer a mentora espiritual Joanna de Ângelis quando diz que o antídoto para o medo são as informações trazidas pelo Espiritismo: a certeza da reencarnação, a certeza de que estamos realizando experiências, praticando para aprender melhor e de que a vida terrena não é mais do que um longo dia perante a eternidade real da vida do Espírito.
O combate ao medo faz-se através da fé aliada "a terapia oferecida pelo trabalho fraternal, o culto doméstico do Evangelho, o pensamento de otimismo e o recolhimento na oração, juntamente com o uso da água magnetizada e do passe."
Com a certeza da imortalidade, construímos a nossa fé sólida e firme. A fé na vida eterna, a certeza de que somos filhos de Deus, pois Ele nos ofereceu a dádiva da vida, traz-nos a confiança de que "O Senhor é meu pastor, nada me faltará", pois o bom pai nada deixa faltar aos seus filhos!
Através do trabalho solidário e fraternal, aprendemos a entender as dores e angústias dos nossos companheiros, a ter compaixão, e finalmente a amar verdadeiramente.
O culto do Evangelho no lar educa nosso Espírito nas verdades divinas e ensina-nos a agir e tomar atitudes moralmente éticas e cristãs. É o Evangelho de Jesus que nos traz lições de otimismo vivo, o fator psicológico capaz de renovar nossos padrões de comportamento, impedindo que o medo, a depressão e angústia se instalem.
É a entronização do otimismo, oriundo da confiança de que, se hoje uma porta se fecha, amanhã outra se abrirá. Assim, se hoje perdemos o emprego, ou o amigo não nos reconhece mais, amanhã outras oportunidades surgirão, outros amigos estarão presentes. E o dínamo gerador deste otimismo é a fé. A fé clara, raciocinada, porque baseada na certeza da vida espiritual e no amor que tudo dignifica.
A freqüência ao Centro Espirita esclarece nossa mente e a mente daqueles Espíritos que nos acompanham. Educamo-nos e educamos outros, que por afinidade conectam-se a nós.
A água fluidificada e o passe são os bálsamos espirituais que auxiliam a cura e fortalecem o nosso Espírito, quando embrenhado na luta para se conhecer, para se autodescobrir.
Assim quando o medo tentar tomar conta de ti, pensa que estás encarnado na Terra para triunfar. O triunfo, no entanto, não está nos aplausos ou nas luzes da ribalta, nem nos sucessos mundanos, que cegam o coração e a mente. O triunfo é sobre ti mesmo, e para consegui-lo é preciso lutar. Portanto, ora e pede orientação do Amigo Maior, que é Jesus; deixa os receios e expulsa o medo, para que possas agir com dignidade. E, se a situação for tão aflitiva que não vês saída, confia e segue em frente com alegria, pois a vida eterna está à tua frente, e jamais estará só aquele que contribui para a construção do reino de amor e paz.
                                                                                                Joana de Angelis

21 julho 2012

EDUCAÇÃO SEXUAL NA VISÃO ESPIRITA

“Disse a mulher: Senhor, dá-me dessa água para que eu não tenha mais sede, nem venha aqui tirá-la. Disse-lhe Jesus: Vai, chama teu marido e volta aqui. Respondeu-lhe a mulher: Não tenho marido. Replicou-lhe Jesus: Disseste bem, dizendo que não tens marido; porque cinco maridos tiveste e o que agora tens não é teu marido; nisto falaste a verdade.” (João, 4:15-18.)

Essa passagem evangélica de extrema grandeza espiritual, vivida junto ao tradicional “poço de Jacó”, na Samaria, e registrada por João, destaca a escolha da samaritana para dialogar com o Mestre e ouvi-lo enunciar a dulcíssima mensagem:“[...]

Todo aquele que beber da água que eu lhe der jamais terá sede” (4:13). Ao falar-lhe sobre os seus maridos, Jesus mostra à mulher o verdadeiro sentido da “água a ser bebida” e que nunca haveria de acabar, libertando-a da sede de amor que tanto a atormentava, após frustradas experiências amorosas.As palavras iluminadas da autora espiritual Amélia Rodrigues ressaltam as emoções vividas pela samaritana naqueles momentos do encontro inesquecível:

[...] Os meigos olhos d’Ele incendeiam- se e se fixam nos olhos dela, penetrando-lhe o recôndito do espírito.

[...] Ela se perturba. Era uma pecadora e Ele o sabia –, conjectura. Esse era o seu tormento íntimo. Quanto se sentia ferida, humilhada no seu amor, receosa! As lágrimas afloram e escorrem abundantes; a palavra empalidece o vigor nos seus lábios e, quase sem fôlego, esclarece: – Não tenho marido. A vergonha estampa no seu rosto moreno a própria dor.1

Ao associarmos esse colóquio a certos problemas atuais do sexo, a exigirem soluções imediatas em função da sua gravidade, quando multidões parecem estar distantes da realidade, como se o ser humano nada mais fosse do que um “animal que pensa”, é possível considerar os prejuízos e os desajustes ético-morais que acarretam as dolorosas provas a serem vividas por aqueles que se desequilibram na aplicação das suas energias genésicas.

As imperfeições na área da sexualidade são desastrosas para muitos de nós, atormentando as mentes em desalinho que assim permanecem, graças ao descontrole do sexo mal dirigido e causando nas criaturas desequilíbrios emocionais profundos, principalmente no desentendimento entre os parceiros que fracassam na comunhão afetiva e que geram, entre outras situações aflitivas, dificuldades, tais como: infidelidade, abandono, prostituição, violência doméstica, rejeição à gestação (mormente, na adolescência), aborto etc. Esses transtornos, infelizmente, em determinados casos, resultam em crimes passionais ou suicídios desesperados, nascidos de psicoses obsessivas verdadeiramente traumáticas.

Por essa razão, a análise do presente tema só será possível se o tratarmos sob o ponto de vista espiritual, sem deixar de dar importância aos estudos desenvolvidos pelas cátedras materialistas,que se restringem, unicamente, aos resultados psíquicos, fisiológicos, e de encaminhamento legal, obtidos na união sexual, conhecimentos esses transmitidos pelos educadores aos adolescentes, de forma inadequada,que faz com que as orientações científicas dos especialistas cometam equívocos sobre as questões que emergem da sexualidade, sobretudo em consequência da falta do conhecimento basilar das ideias reencarnacionistas. O Espírito Emmanuel, ao discorrer sobre tais particularidades, afirma com sabedoria:

– Não devemos esquecer que o amor sexual deve ser entendido como o impulso da vida que conduz o homem às grandes realizações do amor divino, através da progressividade de sua espiritualização no devotamento e no sacrifício.

[...] É aí que urge o esforço de autoeducação, porquanto toda criatura necessita resolver o problema da renovação de seus próprios valores.2

Ressalta, todavia, o preclaro Benfeitor:

[...] em vez da educação sexual pela satisfação dos instintos, é imprescindível que os homens eduquem sua alma para a compreensão sagrada do sexo.2

A necessidade de amparo educativo adequado ao entendimento dos problemas do amor e do sexo permitirá ao Espírito encarnado libertar- se de velhas imperfeições, nascidas desses embaraços sentimentais que despontam do passado multimilenar, pois, no dizer da insigne educadora espiritual Joanna de Ângelis, “[...] o problema do sexo é do espírito e somente do espírito virá, para ele, a solução”.3

É imprescindível refletir sobre a urgência de transmitir às crianças e aos jovens, de acordo com o nível de compreensão de sua faixa etária, orientações salutares de como as vivências amorosas futuras poderão ser equilibradas quando utilizamos, também, as próprias forças genésicas para setores de atividades criativas, promovendo ocupações produtivas, físicas ou morais, que lhes possibilitem, na idade adulta, maior equilíbrio e não extremismo nas experiências sexuais, sem cometer desregramentos, mas esforçando-se no cultivo do respeito entre dois seres que se unem. O Espírito Maia de Lacerda destaca o realismo e a emergência desses estudos, ao observar os obstáculos encontrados pelo despreparo de pessoas que adotam comportamentos deploráveis em que, ao lesarem

[...] almas dignas que lhes merecem a afeição, se desvairam [...] à procura de companhias e parceiros outros de novidade emotiva, interrompendo serviços absolutamente imprescindíveis para eles no quadro da reencarnação [...].4

Esses efeitos poderiam ser evitados se os pais abordassem esclarecimentos de modo franco e sincero, na fase da infância e da adolescência de sua prole, sobre as indagações que surgem a respeito do sexo, estimuladas, especialmente, pela excessiva propaganda dos tempos modernos da informação, causando extrema curiosidade sobre o assunto; enfoques que nem sempre dignificam os princípios humanos e que influem, negativamente, sobre os filhos. Objetivamente, esses são pontos de vista que conferem “pretensa legitimidade às relações sexuais irresponsáveis” e tratam “consciências qual se fossem coisas”.5

Sabemos que “o livre-arbítrio se desenvolve à medida que o Espírito adquire a consciência de si mesmo”,6 procurando discernir entre o bem e o mal; cederá às influências, boas ou más, em função de sua livre vontade e resistirá, ou não, às tentações que surgem da própria imperfeição ou das fraquezas morais que são sempre indícios de uma alma imperfeita. Jesus, sabedor de nossas fragilidades, ao ensinar a Oração dominical, sugere, sabiamente, em um de seus trechos:“Não nos deixes sucumbir à tentação, mas livra-nos do mal”(Mateus, 6:13). A resposta dada pelos Espíritos reveladores à pergunta 261, em O Livro dos Espíritos, traz luz para nossa compreensão sobre o que é preciso fazer nas provações, que nos cumpre passar, sem que venhamos a sofrer toda sorte de tentações de variadas naturezas:

[...] bem sabeis haver Espíritos que desde o começo tomam um caminho que os exime de muitas provas.Aquele, porém, que se deixa arrastar para o mau caminho, corre todos os perigos que o inçam. Pode um Espírito, por exemplo, pedir a riqueza e ser-lhe esta concedida. Então, conforme o seu caráter, poderá tornar-se avaro ou pródigo, egoísta ou generoso, ou ainda lançar-se a todos os gozos da sensualidade. Daí não se segue, entretanto, que haja de forçosamente passar por todas estas tendências.7

Em decorrência, se queremos contribuir para o progresso espiritual de nossos rebentos,“há necessidade de iniciar-se o esforço de regeneração em cada indivíduo, dentro do Evangelho, com a tarefa nem sempre amena da autoeducação”.8

As publicações da literatura espírita, de livros seguramente fundamentados nas obras básicas de Allan Kardec, oferecem para os jovens e adultos farto material sobre as dúvidas que giram em torno do sexo, permitindo-nos discuti-las, essencialmente, com a família, na exemplificação do bom senso e da isenção de preconceitos e tabus.

E os livros espíritas infantis são transmissores de lições preciosas, facilitando, nas pequeninas almas, a eclosão de qualidades morais indispensáveis à formação da mentalidade cristã, primordial para que a criança possa “fugir do abismo da liberdade, controlando-lhe as atitudes e consertando-lhe as posições mentais, pois que essa é a ocasião mais propícia à edificação das bases de uma vida

                                                                                                               Clara Lila Gonzales de Araújo

14 julho 2012

A LEI DO AMOR

O amor resume a doutrina de Jesus toda inteira, visto que esse é o sentimento por excelência, e os sentimentos são os instintos elevados à altura do progresso feito. Em sua origem, o homem só tem instintos; quando mais avançado e corrompido, só tem sensações; quando instruído e depurado, tem sentimentos. E o ponto delicado do sentimento é o amor, não o amor no sentido vulgar do termo, mas esse sol interior que condensa e reúne em seu ardente foco todas as aspirações e todas as revelações sobre-humanas. A lei de amor substitui a personalidade pela fusão dos seres; extingue as misérias sociais. Ditoso aquele que, ultrapassando a sua humanidade, ama com amplo amor os seus irmãos em sofrimento! ditoso aquele que ama, pois não conhece a miséria da alma, nem a do corpo. Tem ligeiros os pés e vive como que transportado, fora de si mesmo. Quando Jesus pronunciou a divina palavra -amor, os povos sobressaltaram-se e os mártires, ébrios de esperança, desceram ao circo.

O Espiritismo a seu turno vem pronunciar uma segunda palavra do alfabeto divino. Estai atentos, pois que essa palavra ergue a lápide dos túmulos vazios, e a reencarnação, triunfando da morte, revela às criaturas deslumbradas o seu patrimônio intelectual. Já não é ao suplício que ela conduz o homem: condu-lo à conquista do seu ser, elevado e transfigurado. O sangue resgatou o Espírito e o Espírito tem hoje que resgatar da matéria o homem.

Disse eu que em seus começos o homem só instintos possuía. Mais próximo, portanto, ainda se acha do ponto de partida, do que da meta, aquele em quem predominam os instintos. A fim de avançar para a meta, tem a criatura que vencer os instintos, em proveito dos sentimentos, isto é, que aperfeiçoar estes últimos, sufocando os germes latentes da matéria. Os instintos são a germinação e os embriões do sentimento; trazem consigo o progresso, como a glande encerra em si o carvalho, e os seres menos adiantados são os que, emergindo pouco a pouco de suas crisálidas, se conservam escravizados aos instintos. O Espírito precisa ser cultivado, como um campo. Toda a riqueza futura depende do labor atual, que vos granjeará muito mais do que bens terrenos: a elevação gloriosa. E então que, compreendendo a lei de amor que liga todos os seres, buscareis nela os gozos suavíssimos da alma, prelúdios das alegrias celestes. - Lázaro. (Paris, 1862.)

O amor é de essência divina e todos vós, do primeiro ao último, tendes, no fundo do coração, a centelha desse fogo sagrado. E fato, que já haveis podido comprovar muitas vezes, este: o homem, por mais abjeto, vil e criminoso que seja, vota a um ente ou a um objeto qualquer viva e ardente afeição, à prova de tudo quanto tendesse a diminuí-la e que alcança, não raro, sublimes proporções.

A um ente ou um objeto qualquer, disse eu, porque há entre vós indivíduos que, com o coração a transbordar de amor, despendem tesouros desse sentimento com animais, plantas e, até, com coisas materiais: espécies de misantropos que, a se queixarem da Humanidade em geral e a resistirem ao pendor natural de suas almas, que buscam em torno de si a afeição e a simpatia, rebaixam a lei de amor à condição de instinto. Entretanto, por mais que façam, não logram sufocar o gérmen vivaz que Deus lhes depositou nos corações ao criá-los. Esse gérmen se desenvolve e cresce com a moralidade e a inteligência e, embora comprimido amiúde pelo egoísmo, torna-se a fonte das santas e doces virtudes que geram as afeições sinceras e duráveis e ajudam a criatura a transpor o caminho escarpado e árido da existência humana.

Há pessoas a quem repugna a reencarnação, com a idéia de que outros venham a partilhar das afetuosas simpatias de que são ciosas. Pobres irmãos! o vosso afeto vos torna egoístas; o vosso amor se restringe a um círculo íntimo de parentes e de amigos, sendo-vos indiferentes os demais. Pois bem! para praticardes a lei de amor, tal como Deus o entende, preciso se faz chegueis passo a passo a amar a todos os vossos irmãos indistintamente. A tarefa é longa e difícil, mas cumprir-se-á: Deus o quer e a lei de amor constitui o primeiro e o mais importante preceito da vossa nova doutrina, porque é ela que um dia matará o egoísmo, qualquer que seja a forma sob que se apresente, dado que, além do egoísmo pessoal, há também o egoísmo de família, de casta, de nacionalidade. Disse Jesus: "Amai o vosso próximo como a vós mesmos." Ora, qual o limite com relação ao próximo? Será a família, a seita, a nação? Não; é a Humanidade inteira. Nos mundos superiores, o amor recíproco é que harmoniza e dirige os Espíritos adiantados que os habitam, e o vosso planeta, destinado a realizar em breve sensível progresso, verá seus habitantes, em virtude da transformação social por que passará, a praticar essa lei sublime, reflexo da Divindade.

Os efeitos da lei de amor são o melhoramento moral da raça humana e a felicidade durante a vida terrestre. Os mais rebeldes e os mais viciosos se reformarão, quando observarem os benefícios resultantes da prática deste preceito: Não façais aos outros o que não quiserdes que vos façam: fazei-lhes, ao contrário, todo o bem que vos esteja ao alcance fazer-lhes.

Não acrediteis na esterilidade e no endurecimento do coração humano; ao amor verdadeiro, ele, a seu mau grado, cede. E um ímã a que não lhe é possível resistir. O contacto desse amor vivifica e fecunda os germens que dele existem, em estado latente, nos vossos corações. A Terra, orbe de provação e de exílio, será então purificada por esse fogo sagrado e verá praticados na sua superfície a caridade, a humildade, a paciência, o devotamento, a abnegação, a resignação e o sacrifício, virtudes todas filhas do amor. Não vos canseis, pois, de escutar as palavras de João, o Evangelista. Como sabeis, quando a enfermidade e a velhice o obrigaram a suspender o curso de suas prédicas, limitava-se a repetir estas suavíssimas palavras: Meus filhinhos, amai-vos uns aos outros."

Amados irmãos, aproveitai dessas lições; é difícil o praticá-las, porém, a alma colhe delas imenso bem. Crede-me, fazei o sublime esforço que vos peço: "Amai-vos" e vereis a Terra em breve transformada num Paraíso onde as almas dos justos virão repousar. - Fénelon. (Bordéus, 1861.)

Retirado do Evangelho Segundo o Espiritismo - Allan Kardec

07 julho 2012

AUTODESOBSESSÃO

Se você já pode dominar a intemperança mental... 
Se esquece os próprios constrangimentos, a fim de cultivar o prazer de servir... 
Se sabe cultivar o comentário infeliz, sem passá-lo adiante... 
Se vence a indisposição contra o estudo e continua, tanto quanto possível, em contato com a leitura construtiva... 
Se olvida mágoas sinceramente, mantendo um espírito compreensivo e cordial, à frente dos ofensores... 
Se você se aceita como é, com as dificuldades e conflitos que tem, trabalhando com tudo aquilo que não pode modificar... 
Se persevera na execução dos seus propósitos enobrecedores, apesar de tudo que se faça ou fale contra você... 
Se compreende que os outros têm o direito de experimentar o tipo de felicidade a que se inclinem, como nos acontece... 
Se crê e pratica o princípio de que somente auxiliando o próximo, é que seremos auxiliados... 
Se é capaz de sofrer e lutar na seara do bem, sem trazer o coração amargoso e intolerante... 
Então, você estará dando passos largos para libertar-se da sombra, entrando, em definitivo, no trabalho da autodesobsessão. 
XAVIER, Francisco Cândido pelo Espírito André Luiz. Do livro Passos da Vida .